São 214 municípios com candidaturas únicas, ou seja, basta apenas um voto para que o candidato seja eleito
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O número de municípios brasileiros com apenas um candidato à prefeitura nas eleições de 2024 dobrou em comparação ao último pleito. Em 2020, 108 cidades tinham candidaturas únicas, enquanto neste ano, o Brasil contará com 214 municípios nessa situação. Em outras palavras, basta apenas um voto para que o candidato seja eleito. Esse é o maior número de candidaturas únicas nas últimas sete eleições, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), que acompanha essa série histórica desde 2000.
De acordo com Paulo Ziulkoski, presidente da CNM, a principal razão para esse aumento é o desinteresse das pessoas em concorrer em pequenos municípios, devido aos inúmeros desafios enfrentados. “Não falo apenas da falta de recursos financeiros e de apoio técnico. As dificuldades incluem questões burocráticas e entraves jurídicos, que tornam a vida pública muito penosa na ponta”, afirmou Ziulkoski.
Pequenos municípios lideram candidaturas únicas
A média populacional das cidades com candidatura única é de 6,7 mil habitantes. Os estados que concentram o maior número de candidaturas únicas são Rio Grande do Sul (43 municípios), Goiás (20) e Mato Grosso (9).
Além disso, o total de candidaturas nas eleições de 2024 caiu 20% em comparação a 2020. Naquele ano, foram registradas 19,3 mil candidaturas, enquanto neste ano são apenas 15,4 mil.
Baixa concorrência à prefeitura atinge mais da metade dos municípios
O número de municípios com até dois candidatos à prefeitura também cresceu. Em 2020, 38% das mais de 5,5 mil cidades brasileiras tinham essa característica. Em 2024, esse número subiu para 53%, segundo o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
O levantamento do Inesc revelou que cerca de 1,6 milhão de brasileiros, aproximadamente 0,8% da população, vivem em municípios onde não terão escolha para prefeito, devido às candidaturas únicas. Outros 35,7 milhões de eleitores terão apenas dois nomes para escolher como prefeito.
Carmela Zigoni, assessora política do Inesc, avalia que a baixa quantidade de opções para os eleitores é prejudicial à democracia local. “A baixa representatividade também é nociva, pois isso pode reforçar dinâmicas de poder já estabelecidas, comprometendo a diversidade de ideias e novas propostas políticas para a melhoria das cidades”, destacou.
Perfil dos candidatos e partidos
Nas cidades com candidatura única, prevalece o perfil de homens (88%), de cor branca (74%) e afiliados a partidos de direita (57%). A polarização entre esquerda e direita, mais evidente nas disputas estaduais e federais, tem menos impacto nas eleições municipais, conforme observado pelo Inesc.
Entre os candidatos únicos, 47% declararam a ocupação de "prefeito", enquanto 11% são empresários e 7% agricultores. Quanto aos partidos, MDB (24%), PSD (16%), PP (13%) e União Brasil (11%) dominam as candidaturas únicas. Em contraste, o PT conta com apenas 5% e o PL com 7% dessas candidaturas, segundo a CNM.
O cenário revela não apenas um crescimento expressivo das candidaturas únicas, mas também um preocupante declínio na representatividade eleitoral, impactando o futuro político de muitas pequenas cidades brasileiras.
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