Polícia Civil concluiu que não houve culpa no acidente que matou oito pessoas; sobreviventes e advogados afirmam haver negligência e omissões na investigação
A Polícia Civil concluiu o inquérito que investigou a queda de balão em Praia Grande, acidente que matou oito pessoas em junho deste ano, e decidiu não indiciar o piloto Elves de Bem Crescêncio. A conclusão, no entanto, foi recebida com profunda decepção por uma das sobreviventes, Tassiane Francine Alvarenga, que perdeu o namorado, Andrei Gabriel de Melo, de 34 anos, na tragédia.
Em entrevista, Tassiane afirmou ter recebido a notícia com “desespero” e disse discordar totalmente da decisão dos investigadores.
“Parece que revivi aquele dia, uma coisa que tento com todas as forças esquecer, pois traz muita ansiedade, muito sofrimento, e a primeira reação foi de desespero. Depois passou para decepção, descaso e sofrimento. Estou indignada com esta decisão. Teve negligência, imperícia e ele teve culpa, com certeza”, declarou.
Advogados contestam conclusão da Polícia Civil
Segundo a reportagem, familiares das vítimas se mobilizam para criar uma associação com o objetivo de cobrar responsabilidades. O advogado de Tassiane, Marco Alencar, disse que já reuniu diversos elementos que contestam o relatório final do inquérito conduzido pelo delegado Rafael de Chiara, da Delegacia de Polícia Civil de Santa Rosa do Sul.
“Tivemos no Ministério Público na semana passada, conversamos com a autoridade e vamos levar essa semana uma série de elementos. Já sabíamos que ia acontecer. Já era assunto nos bastidores que a autoridade policial buscaria abafar a situação, é o que aconteceu”, afirmou.
O advogado Rafael Medeiros, que representa a família de Leandro Luzzi, outra vítima da tragédia, também contestou o resultado das investigações e disse não haver dúvidas de que existem responsáveis diretos pela queda do balão.
“Existe toda uma cadeia de culpados por esses acidentes: seja o piloto, que não era habilitado, uma aeronave que não era certificada e também as autoridades públicas”, destacou.
Ele ainda questionou o comportamento do piloto no momento do acidente. “As pessoas estavam achando que ele ia pousar. Ele falou: ‘vai ter uma batida e todo mundo pula’. Ele foi o primeiro a pular, o primeiro a abandonar o cesto. Isto é uma falta de treinamento e uma falta de hombridade do piloto”, declarou.
Sobrevivente tenta reconstruir a vida
Desde o acidente, Tassiane tem recebido acompanhamento psicológico e psiquiátrico para tratar o trauma e a dor pela perda do namorado. “Por mais que eu tenha me machucado, tenha sofrido, que esteja traumatizada, isso não se compara a quem não voltou para casa. Tenho a dor de ter perdido o meu namorado Andrei, a família dele sofre muito e estamos unidos. Temos muito chão pela frente para poder enfrentar isso”, disse.
A defesa do piloto Elves de Bem Crescêncio, que também representa a empresa Sobrevoar Serviços Turísticos, preferiu não se manifestar sobre o caso. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público, que deve analisar o relatório e decidir se arquiva ou pede novas diligências.
Polícia Civil afirma que não houve provas de culpa
Em nota divulgada na tarde de quarta-feira (8), a Polícia Civil informou que o inquérito “não encontrou provas suficientes de que houve conduta humana dolosa ou culposa que tenha provocado o sinistro”.
O maçarico que teria dado início ao incêndio foi encontrado dias após o acidente, o que, segundo o órgão, rompeu a “cadeia de custódia” — procedimento que garante a integridade de provas.
“O relatório conclui que, embora o maçarico possa explicar o início do fogo, não foi possível comprovar o uso indevido do equipamento pelo piloto ou por qualquer outro ocupante. Dessa forma, o inquérito foi encerrado sem indiciamento”, afirmou a corporação.
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