A atriz Nicette Bruno morreu hoje (20), aos 87 anos. A pioneira na TV estava internada desde o dia 26 do mês passado, com Covid-19, na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro.
A informação foi confirmada pela instituição hospitalar. "Nicette morreu hoje, às 11h40, devido a complicações decorrentes da covid-19. O hospital se solidariza com a família neste momento", diz a nota.
Um boletim divulgado mais cedo apontou que o seu quadro clínico havia piorado e era considerado muito grave. Ela estava na UTI.
Nicette deixa três filhos. Paulo Goulart Filho, Beth Goulart e Bárbara Bruno. Beth foi às redes sociais para se despedir da mãe e afirmou que ela foi infectada por um parente assintomático. Nas redes sociais, amigos e colegas prestaram suas homenagens à atriz.
O início de sua carreira
Nicette Bruno nasceu em 7 de janeiro de 1933 em Niterói, no Rio de Janeiro. Ainda criança, começou a carreira na Rádio Guanabara no programa infantil de Alberto Manes e também a estudar piano.
"Estudei até o segundo clássico e não cheguei a me formar. A única formação que tenho é a de piano, no Conservatório Nacional, além de sempre me dedicar ao estudo do teatro. Na rádio, comecei aos 4 anos, as minhas primeiras demonstrações, declamando, cantando", disse ela para o site Memória Globo.
A vocação revelada desde cedo acabou influenciando a mãe, Eleonor Bruno, que era médica e a acompanhava em seus trabalhos. Eleonor acabou trocando a profissão para ser atriz como a filha. Aos 14 anos, Nicette já trabalhava profissionalmente com teatro como contratada pela Companhia Dulcina-Odilon, da atriz Dulcina de Morais.
O amor pelo palco também a levou a conhecer Paulo Goulart, com quem foi casada por mais de 60 anos e teve seus três filhos. Paulo morreu em 2014, aos 81 anos, vítima de câncer renal.
Nicette foi pioneira na TV
A estreia na televisão foi no ano de inauguração da TV Tupi, em 1950. Além de participações em recitais e teleteatros no canal, Nicette atuou na primeira versão do "Sítio do Picapau Amarelo", exibida entre 1952 e 1962.
A primeira novela foi em "Os Fantoches" (1967), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior. Na TV Tupi participou de títulos como "Meu Pé de Laranja Lima" (1970) e "Éramos Seis"(1977). Também atuou na última novela da Tupi, "Como Salvar Meu Casamento" (1979), encerrada antes de ser concluída.
No teatro
Entre seus primeiros papéis no teatro, ainda na fase amadora, está Julieta, protagonista da peça “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare. Nicette considerava que o ingresso na vida profissional ocorrera na peça “A Filha de Iório” (1947), de Gabriel D’Annunzio, em montagem criada pela companhia da atriz Dulcina de Moraes (1908-1996), ícone do teatro brasileiro na década de 1940, mestra do ofício em um momento pré-modernização das artes cênicas.
Aos 16 anos, Nicette tentou criar uma companhia de teatro no Rio de Janeiro. Em seu empenho – muitas vezes, em entrevistas -, ela falou sobre o episódio. Nicette procurou o presidente Getúlio Vargas para pedir dinheiro. Frustrada com uma promessa não cumprida do governante, no início dos anos 1950, aos 17 anos, foi a São Paulo com a tarefa de administrar uma sala, o Teatro de Alumínio.
Só então começou a formar a companhia Nicette Bruno e Seus Comediantes, que em 1953 migrou para sala vizinha com o nome Teatro Íntimo Nicette Bruno. Neste início de trajetória, a atriz entrou para a roda de profissionais traçando novos caminhos para o teatro nacional, com o diretor Antunes Filho e o ator Walmor Chagas entre eles.
A época foi marcada pelas novas propostas estéticas em São Paulo pelos diretores italianos, como Ruggero Jacobbi, com quem Nicette trabalhou em “Senhorita Minha Mãe”, de Louis Verneuil, e em outras peças.
Na TV Globo
A atriz estreou na Globo em 1980 no seriado "Obrigado, Doutor", em que contracenava com Francisco Cuoco. Entre as principais novelas que fez na emissora estão "Sétimo Sentido" (1982) e "Selva de Pedra" (1986), de Janete Clair, "Louco Amor" (1983), de Gilberto Braga, Clair; "Bebê a Bordo" (1988) e "Perigosas Peruas" (1992), de Carlos Lombardi; "Rainha da Sucata" (1990), de Silvio de Abreu e o remake de "Mulheres de Areia" (1993), de Ivani Ribeiro.
As últimas novelas de destaque foram em "I Love Paraisópolis" (2015), Alcides Nogueira Mário Teixeira, "Pega Pega" (2017), de Claudia Souto, e "Órfãos da Terra" (2019), de Duca Rachid e Thelma Guedes, esta última a vencedora do Emmy Internacional neste ano.
Eterna Dona Benta
Além da primeira versão do "Sítio do Picapau Amarelo", Nicette interpretou entre 2001 e 2004 a personagem Dona Benta na segunda adaptação da história de Monteiro Lobato feita pela TV Globo.
"O diretor Roberto Talma queria que a Dona Benta tivesse uma identificação com a criança de hoje, mas preservando a essência da personagem. Achei muito interessante a ideia de ela se comunicar com o Pedrinho via internet, ao mesmo tempo dizendo ao neto: 'Olha, tem tempo que você não me escreve uma carta ou um bilhete. Não devemos nos comunicar só por meio do computador. A emoção da escrita é muito grande, e eu quero sentir essa sensação'. Até hoje me chamam de Dona Benta", afirmou a atriz para o site Memória Globo.