Durante anos, o brasileiro viu a tabela do Imposto de Renda congelada, enquanto salários e preços subiam. O resultado foi perverso: milhões de trabalhadores que antes eram isentos passaram a pagar imposto, não porque enriqueceram, mas porque o Estado ignorou a realidade.
Agora, o governo tenta corrigir o erro com uma medida de grande apelo popular — isentar do IRPF quem ganha até R$ 5 mil por mês.
Na prática, isso representa o cumprimento de uma promessa de campanha e uma resposta tardia a mais de uma década de defasagem da tabela. Mas, como sempre, há um custo por trás de cada alívio fiscal.
A conta vem dos dividendos
Para compensar a perda de arrecadação, a proposta inclui a taxação de 10% sobre a distribuição de lucros e dividendos acima de R$ 50 mil por mês. Ou seja, quem vive de lucros empresariais ou aplicações financeiras vai pagar parte da conta da nova isenção.
O discurso é de “justiça tributária”: quem ganha menos paga menos, quem ganha mais paga mais. Mas, na prática, o risco é que se penalize justamente o empreendedor que gera empregos e reinveste no próprio negócio — aquele que sustenta a engrenagem da economia real.
Entre a promessa e a compensação
O governo tenta equilibrar duas forças opostas:
- A pressão política de cumprir o que foi prometido ao eleitor: aliviar o peso sobre o trabalhador comum.
- A necessidade fiscal de não abrir mão de arrecadação — o que leva a buscar novos alvos para tributar.
O resultado é um modelo que agrada à classe média baixa, mas preocupa empresários e investidores. Mais uma vez, o país mexe na superfície do sistema, sem atacar o problema estrutural: o tamanho e o custo do Estado.
O verdadeiro desafio
Corrigir a tabela do IR é justo. Mas a reforma tributária que o Brasil precisa vai muito além de trocar quem paga a conta. Precisamos de um sistema simples, previsível e que estimule quem produz. Enquanto o foco estiver apenas em arrecadar mais para manter a máquina pública, o contribuinte continuará sendo o elo mais fraco — ora beneficiado, ora sacrificado.
Para refletir:
“Quando o governo promete aliviar um lado, é porque já encontrou outro bolso para apertar.”

Mauricio Dobiez
Formado em Ciências Contábeis, pós-graduado em Gerência Contábil. Sócio da HOLD Contabilidade, com unidades em Tubarão e Laguna e sócio da Terceirizou - terceirização empresarial, RPV Rent Locação veicular, World Telemedicina, Reevisa Energia Solar e Visto Minas, além de investidor anjo. Foi professor universitário na FUCAP - Faculdade Capivari por 8 anos, encerrando esse ciclo em 2021. Diretor em uma Associação de Proteção Veicular na serra catarinense e outra no oeste do estado. Ex-presidente do Hercílio Luz Futebol Clube Foi diretor de Assuntos Políticos e diretor administrativo da AJET - Associação de Jovens Empreendedores de Tubarão e Diretor de Negócios do CEJESC - Conselho Estadual do Jovem Empreendedor de Santa Catarina. Atual presidente do PSDB Tubarão, Presidente do Lions Club Tubarão e Diretor na Fabsul - Federação de Autorregulamentação, Socorro Mútuo e Benefícios dos Estados do Sul e colunista. Os temas que serão abordados quinzenalmente serão de voltados ao empreendedorismo e gestão de negócios.