A medida aprovada na Alesc gera forte contestação de instituições, que apontam possível inconstitucionalidade do projeto
Foto: Governo do Estado
Após decisão da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) em aprovar o projeto que extingue as cotas raciais nas universidades estaduais, o governo federal passou a estudar medidas para tentar barrar a proposta. A mudança pode impactar diretamente os processos seletivos da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e de instituições comunitárias ligadas à Acafe.
Em nota, o Ministério da Igualdade Racial afirmou que a proibição das cotas e de outras ações afirmativas é inconstitucional e contraria políticas consolidadas ao longo dos últimos anos no país. A pasta destacou que as cotas étnico-raciais, também associadas a critérios socioeconômicos, são instrumentos eficazes para ampliar o acesso ao ensino superior, promover diversidade e reduzir desigualdades históricas.
O ministério classificou o projeto como um retrocesso e alertou que a medida representa risco de desmonte de políticas públicas voltadas ao enfrentamento do racismo. Segundo o órgão, estão sendo analisadas formas de conter iniciativas consideradas inconstitucionais e restritivas de direitos.
A reação se estendeu a outras instituições. O Ministério Público de Santa Catarina informou que avalia a constitucionalidade do texto aprovado. A Defensoria Pública se manifestou contrária à proposta e declarou que seguirá acompanhando o tema.
A Udesc, diretamente afetada, divulgou nota expressando preocupação e discordância. A instituição informou que está analisando os impactos do projeto nos processos já em andamento, caso haja sanção do governador. A universidade mantém atualmente reserva de vagas para estudantes pretos e pardos, pessoas com deficiência e alunos provenientes integralmente da rede pública, além de atualizar seu programa de ações afirmativas.
A Udesc também apontou fundamentos que podem indicar a inconstitucionalidade da proposta diante da legislação federal, citando a Lei nº 12.711/2012 e decisões do Supremo Tribunal Federal que reconhecem a validade das políticas de ação afirmativa com critérios étnico-raciais.
Entidades federais de ensino superior, em nota conjunta, repudiaram o Projeto de Lei nº 753/2025 e afirmaram que sua aprovação institucionalizaria um retrocesso, ampliando desigualdades e negando a milhares de jovens o direito a uma educação superior inclusiva e plural. Elas reforçaram compromisso com políticas de equidade racial.
O projeto aprovado na Alesc proíbe cotas raciais para estudantes pretos, pardos e indígenas, além de vetar reserva de vagas para contratação de docentes, técnicos e demais profissionais com base em critérios étnico-raciais. Permaneceriam autorizadas apenas as cotas econômicas, para pessoas com deficiência e para alunos oriundos exclusivamente de escolas públicas estaduais.
As regras valeriam para a Udesc, instituições da Acafe e faculdades privadas ligadas à Ampesc. Por serem de gestão federal, a UFSC e os institutos federais não seriam afetados.
O texto prevê multa de R$ 100 mil por edital para universidades que descumprirem a lei, além da possibilidade de suspensão do repasse de verbas públicas.
O advogado constitucionalista Roberto Wöhlke afirma que a política de cotas é compatível com a Constituição por buscar a igualdade material entre grupos historicamente desfavorecidos. Ele avalia que, embora o Estado tenha autonomia legislativa, a norma pode ser considerada inconstitucional por ferir tanto a Constituição Federal quanto a catarinense. Segundo ele, os dados das revisões decenais da política de cotas demonstram avanços significativos na inclusão de pessoas negras, justificando sua continuidade.
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